Preocupados com a imagem negativa do crack, difundida pelo estado deplorável a que chegam seus consumidores, muitos traficantes adotaram uma nova estratégia para atrair novos usuários. Em algumas favelas fluminenses, onde a venda da droga já responde a mais de 30% do faturamento, fragmentos das pedras de crack são misturados às porções de maconha sem que o consumidor saiba que está adquirindo o composto conhecido como zirrê (também chamado de desireé, craconha ou criptonita).
– Quando conversamos com os “cracudos”, durante uma operação, ouvimos da maioria que o vício em crack chegou através do zirrê. Quem vê o viciado em crack, dificilmente procura a droga. Por isso, o tráfico adotou essa estratégia, que teve início em favelas da Baixada, mas já chegou à capital – afirma um agente da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), que cita as favelas do Lixão, Mangueirinha, e Vila Ideal, em Caxias, e Manguinhos e Jacarezinho, em Bonsucesso (Zona Norte) como as que já vendem o perigoso composto.
De acordo com o psiquiatra Jorge Jaber, do serviço de tratamento gratuito a dependentes químicos oferecido pela Câmara Comunitária da Barra da Tijuca, a venda inadvertida do zirrê é uma ameaça, “principalmente ao jovem de classe média”.
– Ele usa basicamente álcool, maconha e cocaína, cujo vício progride mais lentamente, quando comparado ao do crack. Esse é o perigo do zirrê. Se usado com frequência, pode viciar em uma semana – alerta.
O também psiquiatra Jairo Werner, do Núcleo de Estudo de Alcoolismo e Outras Dependências, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), lembra que o zirrê foi “o responsável por difundir o crack no Rio de Janeiro”.